Descansar sem culpa

Você consegue?

Me lembro até hoje, quando saí de uma fase CLT e voltei a empreender. Decidi que iria ao cinema no meio da tarde em plena quarta-feira. Seria uma subversão que eu precisava para me reafirmar. Pelo menos era o que eu achava na época.

Bem, sabe o que aconteceu?

Me senti péssima, com medo do que as pessoas iriam pensar ao me ver no shopping a lazer no meio de uma tarde em horário comercial. Foi tanto mal estar, minha cabeça a mil, que quase desisti.

Então me dei conta do que estava acontecendo.

Era meu relacionamento comigo mesma, aprendido durante décadas que estava me oprimindo, me dizendo que eu não tinha direito a fazer o que estava prestes a fazer.

Mas veja bem, eu planejei aquele momento. Não deixei nenhum compromisso relegado ao acaso. Eu sabia que precisava de uma pausa, que estava precisando de um cuidado, de um tempo só meu e o cinema seria perfeito.

Mas o mal-estar estava ali acabando com meu prazer, me colocando no lugar de irresponsável, de preguiçosa, de maluca.

É isso que nós mulheres aprendemos a vida toda: tudo e todos em primeiro lugar, descansar sem antes acabar de arrumar tudo, de atender a todos, jamais. Quem você pensa que é, afinal?

Meninas, isso está tão profundamente arraigado em nós, que fazemos essa crítica a outras mulheres, mas jamais a homens.

Acompanhe esse cenário comigo

Se um homem chega do trabalho, se esparrama no sofá, liga a tv e o mundo à sua volta está um caos, qual o problema? Ele está cansado e precisa de um tempo pra relaxar, certo? Certo!

Agora vamos pra esse outro cenário: se uma mulher chega do trabalho, se esparrama no sofá, liga a tv, ou vai tomar um demorado e relaxante banho enquanto o mundo à sua volta está um caos, qual o problema? TODOS! Como assim, ficou maluca? E essa bagunça, e as plantas e o jantar, e a tarefa de casa, de o banho das crianças, e a resposta àquele e-mail que não deu tempo de responder mais cedo e, e, e e,e... infinitos e aquilo e mais aquilo? Certo? ERRADO!

Ninguém vai nos dar o direito ao descanso, ao relax, ao desfrute de tempo livre se nós mesmas não nos dermos esse direito, certo?

E meu cinema? Fui. Fiquei até o fim do filme. Pena que na época eu não tinha o hábito de cadernos de anotação então não me lembro que filme foi.

Mas saí gargalhando, de mim, de como me senti livre, de como um pequeno gesto de rebeldia me deu a sensação de liberdade que estava buscando e nem sabia.

Quero muito saber como isso chega pra você.

Como está sua relação com o descanso, o tempo livre.

Um beijo no coração,

Ana