Sobrecarga nas jornadas femininas

Estamos exaustas!

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Jornada dupla, tripla. Quando a sobrecarga é rotina.

Outro dia ouvi de uma amiga: somos profissionais que precisam fingir que não são mães e mães que precisam fingir que não são profissionais. A conta não fecha.

Acho que li essa mesma argumentação em algum outro lugar que não me lembro, mas faz muito sentido pra mim.

Tenho três filhos já adultos, mas foi um sofrimento empreender na década de noventa, com filhos recém chegados, amamentação, cobranças externas de ficar mais em casa, outras de trabalhar mais, e as internas de ter minha independência e construir um negócio e ainda assm, corresponder a todas as expectativas sociais.

Elisama Santos fala em uma entrevista (adoro Elisama) que o cuidar não é naturalmente feminino. Que o cuidar, seja de casa, de pessoas, negócios, etc, é um aprendizado. E um aprendizado que a grande maioria das mulheres aprende desde muito pequena. Falta treino aos homens.

Ana Suy (que também adoro), diz que maternidade e amor não são instintivos, são construídos na relação.

São muitas as desconstruções que precisamos fazer para que possamos sentir bem no fundo, o verdadeiro merecimento ao descanso, a parar, a deixar sem fazer até que outro assuma a responsabilidade, se for o caso.

Eu não sei você que está lendo, mas a primeira vez que tirei uma folga durante a semana para ir ao cinema, quase não fui. Começou uma conversa muito doida na minha cabeça sobre o que iam achar de mim, o que eu diria se encontrasse alguém conhecido. O que era uma certeza, pois moro em cidade pequena no interior de Minas e fui comerciante a vida toda.

Pesquisas indicam que os ambientes colaborativos sobrecarregam ainda mais as mulheres.

Como assim Ana, não é colaborativo?

Sim, mas as mulheres tem culturalmente a tendência a colaborar mais, a apoiar grupos e pessoas com alguma dificuldade e assim, ficam ainda mais sobrecarregadas.

Não é instinto, é cultural.

Quanto mais entendermos isso, mais iremos cobrar para que todos colaborem, para que as cargas sejam distribuídas com maior equidade.

A casa precisa ser limpa, a louça lavada, a roupa estendida, as compras feitas? Ok. Quem tem mais disponibilidade de tempo para cada uma dessas atividades fora do horário comercial? Como tudo isso pode ser distribuído, negociado e concluído para que todas as pessoas do sistema vigente, profissional e/ou familiar, funcione sem sobrecarregar apenas um membro?

Quando vamos distribuir atividades de cuidado para meninas e meninos desde os primeiros anos de vida? Cuidados com seus pets, plantas, brinquedos, cuidados com a casa, gentilezas entre as pessoas da família?

Olhando bem de perto para as dinâmicas familiares e organizacionais veremos que é quase um rótulo automático de que o feminino vai estar ligado aos cuidados, ao servir a todos. O que há de errado ou inferior em servir? Absolutamente nada. Por isso, pode e deve ser distribuído entre todos.

Como seria seu dia a dia e quantas seriam suas oportunidades de descanso se as dinâmicas de cuidado fossem equivalentes entre homens e mulheres?

Vou adorar saber.

Beijos, Ana